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4 set

Empreendendo e empoderando mulheres por meio da música

Conheça mais sobre o trabalho da banda campineira “A Preta que Habito”, composto por Giovanna Machado e Monique Caetano

Trabalhando diariamente para realizar o sonho de viver de arte, as campineiras Giovanna Machado e Monique Caetano criaram a banda “A Preta que Habito” em fevereiro deste ano. Deste então, essas meninas têm conquistado uma ampla rede de fãs ao levar mensagens de luta e empoderamento por meio da música. Conheça mais sobre esta trajetória na sequência!

Como e quando nasceu o “A Preta que Habito”?

Giovanna e Monique: “A Preta que Habito” nasceu em fevereiro de 2018. Nosso amigo Marcelo, do coletivo Maloca, uma casa de Arte e Cultura na Vila União, Campinas (SP), nos convidou para uma apresentação em um sarau da casa. Ele pediu para nos juntarmos, pois já cantávamos em projetos solos, cada uma com seu estilo e trabalho, mas nada muito maduro e profissional. Topamos e como sabíamos das dificuldades da Maloca para permanecer como um espaço cultural para a comunidade da periferia, quisemos fazer um show de qualidade para atrair as pessoas e mostrar o motivo pelo qual essa casa deve existir para a comunidade. Criamos um nome, “A Preta que Habito”, e a apresentação foi mais do que especial! Nós curtimos muito e o público, que colou em peso, também. O encantamento foi tamanho que o pessoal começou a fazer convites para tocarmos em outros lugares. De início não tínhamos pretensões profissionais mas o sucesso acidental nos fez querer continuar. A gente decidiu viver de música e empoderar mulheres, fazendo disso nosso trabalho e fonte de renda. Desde então, começamos a nos organizamos profissionalmente: criamos perfil nas redes e com o tempo fomos publicando vídeos no YouTube. Em menos de 6 dias tínhamos 200 seguidores no Instagram (@apretaquehabito) e hoje, com menos de 6 meses, estamos com quase 800 seguidores.

Qual o propósito da banda “A Preta que Habito”?

Monique: Em primeiro lugar, ser reconhecido amplamente no Brasil e se possível no mundo. A banda, antes de qualquer coisa, é um trabalho através do qual queremos sair da invisibilidade social que é imposta aos negros, mulheres e homossexuais, ter uma grana para vivermos com dignidade, fazer algo que nos dá prazer e acrescenta sentido às nossas vidas. E em segundo lugar, é uma banda que veio para questionar e fazer pressão social para que mulheres, negros e pessoas LGBTs possam participar da sociedade com dignidade e oportunidades. A sociedade que temos hoje não é sustentável. Discrimina, mata, exclui as ditas “minorias,” que na verdade, não são minorias. A população negra, por exemplo, é metade ou mais que a metade do Brasil, mas por que só tem médico, engenheiro e professor branco? Tem algo de muito errado, né?

Vocês consideram que o “A Preta que Habito” é uma iniciativa empreendedora?

Monique: Sim, nas não é só isso. É arte, poesia e voz para as nossas angústias e alegrias. É um ato político! O empreendedorismo entra na questão da gestão para que nossa arte chegue às pessoas e nesse trabalho dos bastidores, sempre procuramos atuar com mulheres e jovens da periferia, porque cria uma rede de fomentação. Um trabalho incentiva o outro!

De que forma o projeto ajuda a empoderar as mulheres?

Giovanna e Monique: “Para o feminismo negro, empoderamento possui um significado coletivo. Trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres como sujeitos ativos de mudança”, disse Djamila Ribeiro. Essa frase dela, que é filósofa e escritora, sintetiza o que acreditamos. O empoderamento tem sido usado muito como uma questão individual, mas é um termo político e que diz respeito a experiências coletivas. Não se trata apenas de uma pessoa criar auto estima e melhorar de vida, é preciso ter práticas que ajudam outras mulheres a terem uma vida melhor. Nós empoderamos as mulheres com nossas letras, postura e práticas. Para as mulheres negras, nossa existência em um lugar de fala, como é o palco, por exemplo, empodera. É representatividade, mostra para elas, assim como outras mulheres negras nos mostram, que elas têm o direito de estar em qualquer espaço, que elas podem sonhar e fazer acontecer e que podemos, inclusive, lutar juntas.

Além disso, temos outros exemplos que vão além deste projeto, como é o curso de produção musical para mulheres, totalmente gratuito, que iniciamos no dia 1° de setembro, na Maloca. O estúdio é um espaço completamente masculino, no qual as mulheres são frequentemente sexualizadas ou excluídas dos processos de criação de seu próprio trabalho. Ajudar a mulher a obter conhecimento sobre como gravar e produzir música vai permitir que ela consiga gravar seu próprio trabalho sem precisar se colocar em situações de riscos ou de desconforto só por ser mulher. A gente quer ajudar as mulheres a terem autonomia na arte. Conseguimos uma parceria com uns meninos muito talentosos e amigos nossos que vão passar o conhecimento para elas.

Onde vocês costumam se apresentar?

Monique: A gente se apresenta em muitos lugares, como no famoso e adorado “Sarau das Manas,” organizado por mulheres que admiramos muito como as artistas e ativistas. Esse sarau é bem interessante porque é só para as mulheres e tem como objetivo incentivar e fomentar o trabalho de artistas incríveis de Campinas (SP). Nós também nos apresentamos no “Arena do Rap”, que é organizado por jovens da periferia e ocorre mensalmente no teatro de arena da Unicamp. Além disso, nos apresentamos e damos palestras sobre ativismo e empreendedorismo em empresas e espaços culturais. No fim do ano, inclusive, vamos participar de um projeto dentro da empresa Valeo.

Enfim, nossa atuação é bem ativa por diversos espaços. Vamos para cima fazendo o povo pensar e agir para criarmos um mundo mais justo. Recentemente, nos apresentamos no teatro do Shopping Iguatemi também. Estamos bem contentes com tanto trabalho e as pessoas também… Parece que a gente vai contagiando o povo!

Atualmente, vocês trabalham somente com a música ou possuem uma jornada dupla?

Giovanna: Fora a banda, eu estudo e tenho alguns projetos pessoais. Estou no último ano do Ensino Médio, sou capoeirista e coordenadora do curso de produção musical para mulheres, mencionado acima, junto com a Monique e alguns meninos da gravadora Bigfield. A banda, por ser independente, ocupa bastante do meu tempo. Temos diversas tarefas relacionadas a estudo da música, criação e marketing.

Monique: Sou estudante de Economia na Facamp, professora de inglês particular, gestora da banda “A Preta que Habito” junto com a Giovanna e dou algumas consultorias de estratégia e planejamento para artistas e empreendedorismo no geral. Fora tudo isso, moro sozinha, então depois de trabalhar uma média de 10ª 12 horas por dia, ainda cuido de casa. Não é fácil.

– Conheça mais sobre o trabalho da banda “A Preta que Habito” nas redes sociais: https://www.facebook.com/apretaquehabito

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Leticia Milaré